A publicidade ainda comunica estereótipos sobre a mulher negra

No próximo domingo, 25, comemoramos o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e olhando a publicidade brasileira notamos que ainda comunicamos estereótipos, além de não termos a pluralidade da interseccionalidade em propagandas de produtos dirigidos para essa mulher.

Para começarmos a refletir sobre este tema precisamos entender que a mulher negra é plural e não se resume ao biótipo da Taís Araújo, Sheron Menezes ou Jessica Ellen, três mulheres negras incríveis, talentosas, lindas, mas muito parecidas esteticamente e que estão em vários trabalhos audiovisuais e propagandas representando todas nós, mulheres negras.

Assim como vemos na publicidade mulheres brancas diversas: loiras, morenas, ruivas, baixas, altas, magras, gordas, jovens, idosas, homossexuais, heterossexuais também precisamos ter mulheres negras representadas dessa forma, e não somente com um único biótipo que muitas vezes possui a pele mais clara, o cabelo mais cacheado e o corpo mais magro.

Essa falta de pluralidade acontece com a mulher negra, mesmo quando o produto é voltado para ela. Para comprovar o que digo podemos nos pautar pela maioria das marcas que atuam no mercado de cabelos crespos e cacheados. Quando vamos analisar a publicidade de seus produtos eles trazem em 90% dos casos mulheres com a pele mais clara e o cabelo com ampla formação de cachos. E as demais? As retintas, as de cabelos crespíssimos que não formam cachos onde estão?

Outro ponto é a permanência dos estereótipos na publicidade. Apesar de o número de comerciais que empoderam ser maior do que os que estereotipam, ainda há um grande número de estereótipos. A imagem da mulher negra ainda está ligada a estereótipos e preconceitos clássicos como trabalhadora doméstica, a atleta ou a sambista exportação.

Nos últimos anos, é possível notar uma diminuição da publicidade ligada a tais estereótipos, o que não significa que a imagem da mulher negra passou a ser valorizada. Em larga medida, nos anúncios em que ela não aparece estereotipada, acaba tendo uma imagem meramente neutra ou padronizada de acordo com uma maior proximidade ao biótipo eleito, ou seja, pela mais clara, cabelo mais cacheado e corpo mais magro.

A publicidade, assim como outros segmentos da mídia, acabam por atuar na retroalimentação do racismo, o que ajuda a refletir o preconceito presente na sociedade. O ideal seria uma publicidade que desse visibilidade à verdadeira composição racial da população brasileira, deixando de perpetuar a imagem do branco como padrão ideal de sucesso e beleza. Para isso é preciso que haja maior presença de profissionais negros nas agências de publicidade, além de uma mudança na postura ética em relação à questão social.

E para finalizar, sim sabemos que há um crescimentos de mulheres negras na publicidade, mas muitas vezes mostram a presença da mulher negra como representante de si própria, quando negras fazem campanha de shampoo destinado aos seus cabelos quando mulheres negras veiculam sua imagem em anúncios de maquiagem para mulheres negras. O negro é ainda legi-signo dele próprio e não ‘do humano’. Ele é representante do humano, mas apenas de um tipo de humano: o humano negro.

*Crédito da imagem: @siriricas.com

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Renata Camargo
Jornalista graduada pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, possui 25 anos de experiência em comunicação corporativa. Consultora em comunicação inclusiva, pesquisadora e entusiasta do cenário brasileiro de Diversidade & Inclusão com ênfase no papel das empresas e marcas na transformação da sociedade.

4 Comments

  • Joice Ribeiro da Silva on 18 de julho de 2021

    Parabéns pelo artigo, é fundamental ter um olhar de reconhecimento para a pluralidade dentro das marcas/propagandas, pois é fundamental para a valorização dos corpos plurais.

    • Renata Camargo on 19 de julho de 2021

      Exatamente, Joice. Estamos caminhando, mas ainda falta muito e precisamos sempre lembrar. 🙂

  • Thais Vitorino on 18 de julho de 2021

    Tema de extrema relevância. Excelente texto!

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